Introdução: Até 2013 todas as pacientes que tinham linfonodos axilares comprometidos antes da quimioterapia neoadjuvante realizavam a cirurgia de esvaziamento axilar, independente da resposta ao tratamento de quimioterapia.
O problema: A cirurgia do esvaziamento axilar (principalmente, se necessário radioterapia axilar) está associada ao linfedema (edema do braço), parestesia e dor (morbidades que podem prejudicar qualidade de vida).
Estudos iniciais: No ano de 2013, após publicação de 3 principais estudos (Z1071, SENTINA e SN FNAC), foi aceito a realização de uma cirurgia menor, a biópsia de linfonodo sentinela (BLS), quando as pacientes apresentavam resposta clínica axilar (=ycN0). Esses trabalhos demonstraram uma taxa aceitável de falso negativo da BLS (<10%) quando usamos duas técnicas (como por exemplo azul patente e tecnécio) para marcar o LS, associados a identificação de 3 linfonodos como BLS. Diversos outros estudos foram publicados após isso demonstrando segurança clínica em fazer essas técnicas, usando apenas tecnécio isolado ou usando outros marcadores para reduzir a taxa de falso negativo (como clip ou carvão nos linfonodos comprometidos iniciais = cN+).
Novo problema: No Brasil, em diversos locais de atendimento SUS (assim como provavelmente em outros Low and Middle Income Countries) só temos disponível o azul patente como marcador para realização de BLS. Na prática, na ausência de disponibilidade de tecnécio ou outros marcadores, e baseados em outros estudos com desfecho clínicos, já usávamos o azul patente como marcador único. No entanto, isso não estava documentado em literatura, não sabíamos média de linfonodos com cirurgiões experientes e etc…
A idéia: o Dr Francisco Pimentel, mastologista em Fortaleza-CE, teve a (brilhante) idéia de analisar esses dados. Toda publicação cientifica gera força para outros locais replicarem a mesma idéia (e demonstrarem números) assim como gera questionamentos ( será que é mesmo necessário usar dois marcadores na axila pós qt neoadjuvante).
Minha participação no artigo ( que iniciou como pôster em SBACS/23): auxilei na escrita do pôster, discussão dos dados, indicação da estatística Patricia Ziegleman, análise dos resultados e ajuste da tabela de dados junto com a estatística, revisão do texto, resposta a um dos revisores da revista.
O artigo: Primeiro artigo publicado sobre uso isolado de azul patente como marcador para realização de BLS pós quimioterapia neoadjuvante em pacientes que tiveram resposta axilar (antes do tratamento positivas, após tratamento negativas). Nesse grupo inicial de 100 mulheres de Fortaleza (cN+ ->ycN0), a taxa de identificação de BLS foi de 96% (o que demonstra a experiência do grupo de cirurgiões), a mediana de BLS foi de 3.1 e NENHUMA recorrência axilar ocorreu num seguimento de 36 meses. Foi evitado o esvaziamento axilar em 60% dos casos iniciais cN+.
O futuro: estudos com maior seguimento + novos dados em trabalho com números mais robustos.